“ Virtuosa da kora estreia-se em Portugal no Misty Fest”
O caminho de Sona Jobarteh é tão singular como a sua música.
.A BBC não demorou a descobri-la, tornando-a uma artista de referência.
A Universidade de Cambridge na sua cerimónia anual acaba de lhe atribuir um prémio em reconhecimento da sua importante contribuição para a música africana como compositora, cantora, e multi-instrumentista.
Afinal de contas, Sona natural da Gambia, estudou no prestigiado Royal College em Londres, e soube abrir os seus ouvidos a muitas músicas diferentes do seu mundo de origem, coleccionando assim experiência especia que a tem levado a apresentar-se com gente grande como Oumou Sangaré ou Toumani Diabaté ou a colaborar com verdadeiras instituições como a BBC Symphony Orchestra.
Para o bem e para o mal, África está ainda mergulhada num intrincado mundo de tradições, muitas das quais refletem-se no papel das mulheres na sociedade. Na África Ocidental, a kora – incrível instrumento de 21 cordas associado à tradição dos Griots – é um pilar de muitas dessas tradições: dotada de um som que parece tão antigo como as próprias civilizações desse continente, a kora é fundamentalmente executada por homens, com os seus segredos e mistérios a serem transmitidos de pais para filhos, sem excepções. Mas Sona, já o tínhamos garantido, é um caso singular.
Apesar de mulher, Sona Jobarteh teve a coragem de adoptar a kora como o seu instrumento e desde muito cedo dedicou-se ao seu estudo, efetivamente quebrando as amarras da tradição. No processo tornou-se uma griot profissional, uma contadora de histórias, como o seu pai e o pai do seu pai antes de si, membros de uma notável e notória linhagem respeitada na Gâmbia há muitas décadas.
Dotada de uma voz tão formidável como as suas capacidades na kora, Sona Jobarteh foi escolhida para compor música para vários filmes, incluindo documentários premiados como “The Motherland”. “Fasiya”, o seu trabalho mais recente, é uma incrível amostra dos seus talentos. Nesse álbum, Sona mostra que sabe o que é a tradição, mas também que o seu olhar alcança muito mais, revelando aí a mesma ambição que a levou a estabelecer a primeira escola de música mandinga no seu país natal. Artista singular, de facto. Mas o mundo sabe escutar e Lisboa vai poder aplaudir !