A cantora Corinne Bailey Rae, agraciada com um Grammy, prepara nova etapa na sua carreira e vem a Portugal apresentar o seu próximo álbum, Black Rainbows, em que explora surpreendentes e originais ideias musicais.
Em 2005, Corinne Bailey Rae apresentou-se ao mundo com a clássica – e apropriada – “Like a Star” e, no ano seguinte, arrebatou o planeta inteiro dirigindo-lhe o melhor dos convites: “Put Your Records On”. Na verdade, milhões por todo o planeta colocaram o seu disco a tocar, transformando o homónimo Corinne Bailey Rae num mega sucesso que vendeu mais de 4 milhões de cópias em todo o mundo. O seu nome tornou-se sinónimo de sofisticação, de alma, de bom gosto. Boas notícias: em 2023, Corinne Bailey Rae está de volta com um novo e incrível trabalho que receberá o título Black Rainbows. Com data de edição assegurada para Setembro, esse novo trabalho tem já apresentação marcada para Portugal, como um dos concertos de destaque no programa 2023 do Misty Fest.
Corinne lançou novos discos em 2010 e 2016, mas o novo álbum, que tem vindo a ser cuidadosamente preparado de há uma década a esta parte, é um ambicioso trabalho conceptual que promete conquistar espaço nas listas dos melhores registos deste ano. Inspirado nas obras do artista Theaster Gates, natural de Chicago, que se notabilizou no mundo da arte contemporânea pela forma como repensa espaços abandonados. Corinne encontrou a sua obra no Stony Island Arts Bank, em Chicago e deixou-se arrebatar: “Quando entrei por aquelas portas, soube que a minha vida tinha mudado para sempre”, diz Bailey Rae. “Envolver-me com estes arquivos e encontrar Theaster Gates e a sua prática mudou a forma como penso em mim enquanto artista e quais as possibilidades do meu trabalho. Esta música surgiu através da visão. Para mim, ver tem sido como ouvir. Enquanto eu estava a ver, as canções/sons apareceram”.
Desse impacto nasceu um álbum denso e de canções maravilhosas – começando logo com o primeiro single, “New York Transit Queen”, uma lição de energia que parece inspirar-se no espírito do punk (isso mesmo) para fazer uma afirmação de poder no presente. Há também um livro, Reflections/Refractions em colaboração com o fotógrafo Koto Bolofo, e, sobretudo, um novo espetáculo, que estreia no arranque de Setembro em Chicago partindo daí para uma digressão americana antes de chegar ao Reino Unido e Espanha. Portugal será a etapa seguinte neste périplo em que Corinne Bailey Rae volta a reclamar um lugar de destaque no presente.
Bilhetes à venda a partir das 10 horas de 23 de agosto.
Assista aqui ao vídeo do primeiro single do novo álbum de Corinne Bailey Rae
Esta é a história de um regresso às origens. É também o título de um concerto para piano solo, bem como de um disco que deverá sair até ao final deste ano de 2023. Quando tinha 5 anos de idade, acompanhei o meu pai a um leilão de antiguidades onde se encontrava um velho piano vertical de fabrico francês e armação de madeira. Abri a tampa e comecei a tocar as “Pombinhas da Catrina” com um dedo da mão direita. O meu pai murmurou: “O miúdo tem jeito. Tenho de o pôr a estudar música.” E comprou o piano.
Aos 9 anos entrei para o Conservatório da Rua dos Caetanos e foi assim que comecei a minha aventura pianística. No entanto, os duros métodos pedagógicos da altura não me conquistaram e era penoso ter de estudar diariamente num piano que nem sequer afinava. Aos 16 anos tomei contacto com o Rock Sinfónico e comecei a apaixonar-me pelos teclados eléctricos. Consegui comprar um órgão Yamaha de dois teclados e pedaleira e entrei num grupo que tocava em convívios de liceu. Estávamos nos princípios dos anos 70. A partir daí rendi-me aos sintetizadores que começavam a sair nessa altura e nunca mais quis saber do piano… até ao dia 30 de Março de 2018, quando o quarto de cauda chegou ao meu estúdio.
Carregado por quatro homens, o pesado móvel dá entrada na sala que para ele foi concebida há 11 anos e que, desde essa altura, o espera. Sem pernas, pesadíssimo, entra pela porta mais larga. Eu próprio ajudei a colocar uma espuma no chão para que não riscasse o parqué. Comovido, dou-lhe as boas vindas com um olhar silencioso, tentando esconder a minha excitação, ciente de que estes homens fazem disto a sua vida e estão apenas concentrados em acabar mais um transporte, como tantos outros. Enquanto um deles atarracha as três pernas, decido da sua colocação na sala. Endireitamo-lo e aí está ele: o Grotrian-Steinweg quarto de cauda fabricado em 1920 está de pé. Negro e, por enquanto silencioso, já se percebe que a sala é dele.
Depois de uma pequena conversa de circunstância, os homens despedem-se e desaparecem na direção da carrinha. Fecho a porta. A tarde está fria e chuvosa e, cá dentro, admiro a nova paisagem: um piano no meio do salão de xisto e pedra. O sonho tornado realidade. Os gatos aproximam-se para inspecionar o novo objeto e os cheiros que dele se desprendem. Rondam cuidadosamente o enorme vulto até que o Persa salta para o tampo e aí fica, usufruindo do inédito ponto de observação. Alguns pêlos espalham-se pela superfície luzidia e tomo consciência de que, a partir de agora, sou possuidor de um objeto ao qual é preciso limpar o pó regularmente.
Desde esse dia, comecei, para além de limpá-lo, a compor para ele. O resultado dessa aventura solitária está no som destas peças, que vagueiam numa espécie de neoclassicismo assumido, fruto de sentimentos variados e de uma vida musical já bastante longa.
Carlos Maria Trindade.
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Rodrigo Cuevas repete presença no Misty Fest com o seu novo trabalho La Romería. Tanto em Lisboa, como no Porto serão datas de concertos duplos (Bandua e Rodrigo Cuevas). O mesmo bilhete dá acesso aos dois espetáculos.
Rainha da edição 2023 do FMM Sines, proclamação do diário Público, Rodrigo Cuevas vai trazer um novo espetáculo ao Misty Fest: La Romería é o título do novo trabalho do artista de Oviedo, Espanha, nascido em 1985 que se apresenta como fonte de “agitação folclórica e eletrónica, estrela do campo, humor, erotismo elegante, hedonismo e celebração dos direitos inegociáveis”. Cuevas faz parte de uma nova geração de artistas espanhóis que procura na tradição os argumentos para apresentar ao futuro. E pelos vistos esses argumentos têm no peso certo. O autor do espetáculo Trópico de Covadonga mereceu o Prémio Arcoíris 2022 atribuído pelo Ministério da Igualdade, em Espanha, bem como o Prémio Ojo Crítico da RNE em 2021 ou, entre várias outras distinções que espelham uma ampla aclamação, o prémio MIN 2020 para Artista Revelação na sequência do seu álbum de estreia, Manual de Cortejo.
Há novo material neste espetáculo pensado para 2023 e mais adiante: “Como YÉ?!” ou “,Mas Animal” são alguns dos seus mais recentes sucessos e provas claras de que a sua original combinação de modos tradicionais e produção moderna, de humor, ironia, erotismo e crítica na ponta da língua lhe tem garantido um lugar de crescente importância não apenas em Espanha mas no mais vasto contexto Ibérico. Aplaudi-lo é importante e necessário.
Veja aqui o vídeo oficial de Más Animal
BANDUA: O duo Bandua, que tem merecido a atenção da crítica pela originalidade das suas canções, apresenta no Misty Fest alguns temas inéditos e o aclamado álbum de estreia.
Os Bandua, duo formado por Tempura the Purple Boy e Edgar Valente, seguem para a estrada com um novo espetáculo. O alinhamento contará com vários temas inéditos, Bandeiras – tema que levaram ao Festival da Canção – e canções que integram o primeiro disco da dupla, um dos mais aclamados pela crítica em 2022. O êxito desse ano refletiu-se em mais de 30 concertos e na presença do seu álbum de estreia em inúmeras listas de melhores álbuns do ano.
Nesse disco, o homónimo Bandua, a dupla agarrava no cancioneiro popular da região da Beira Baixa e reinterpretava-o em jeito de folk eletrónico, à moda do downtempo berlinense. Por sua vez, Bandeiras amplia esse imaginário da música de raiz popular portuguesa, para lhe acrescentar os ritmos da música eletrónica global, com novas influências que vão desde o breakbeat ao dubstep, convergindo num estilo que a dupla apelida de “tugastep”.
Depois de vários concertos esgotados, Piano Para Piano está de regresso a Lisboa e apresenta-se pela primeira vez no Porto. Este espetáculo junta em palco Rodrigo Leão e a filha Rosa num diálogo entre dois pianos acústicos.
Rodrigo Leão é o primeiro a dizer que não é pianista, mas a verdade é que o piano tem surgido na sua obra como um complemento dos sintetizadores que já usou bastas vezes para escrever memoráveis melodias e pensar nos envolventes arranjos a que foi dando corpo com os ensembles que criou. Agora, o notável compositor português prepara-se para nova aventura: Piano Para Piano é um projeto que nasceu depois de uma encomenda do Festival de Piano em Vila Nova de Cerveira, desafio que o levou a compor duas novas peças que são também o princípio de um novo caminho.
“Acho interessante”, revela Rodrigo, “que eu que não tenho qualquer formação como pianista possa estabelecer um diálogo com quem estudou e estuda seriamente o instrumento”. Nesse primeiro momento no evento minhoto a sua interlocutora foi Rosa, sua filha, que conta 19 anos e será também ela que irá acompanhar o pai agora neste espetáculo. Vai ser interessante escutar estas peças como as ouço na minha imaginação. A imaginação não tem os mesmos limites que as minhas mãos”, explica Rodrigo. “Pode ir tão longe quanto a criatividade ditar”.
Piano Para Piano é por isso mesmo uma viagem ao maravilhoso desconhecido com assinatura de um dos mais celebrados compositores portugueses.
Hauschka é um dos mais respeitados compositores contemporâneos. E igualmente um dos mais premiados: em 2023, ganhou um Óscar e um BAFTA na categoria de Melhor Banda Sonora Original por A Oeste Nada de Novo. A música para o filme Lion, que compôs em colaboração com Dustin O’Halloran, foi nomeada para vários prémios, incluindo o Óscar para Melhor Banda Sonora Original, o Globo de Ouro para Melhor Banda Sonora Original e Melhor Música de Cinema nos BAFTA.
O trabalho de Hauschka tem provado ser perfeito para acompanhar imagens. Ouvimos composições da sua autoria em vários filmes e séries de televisão importantes, incluindo a banda sonora para Patrick Melrose, a minissérie da Showtime nomeada para os Emmy e BAFTA, e para Gunpowder, minissérie da HBO protagonizada por Kit Harington, e ainda para o filme Ammonite, de 2020, trabalho assinado em parceria com O’Halloran, que esteve na lista final dos candidatos a nomeados para os Óscares na categoria de Melhor Banda Sonora Original.
Pianista inovador que no seu trabalho a solo dá pelo nome de Hauschka, Volker Bertelmann trabalhou com a Orquestra Sinfónica da Rádio MDR Leipzig, onde foi artista residente, e com a violinista Hilary Hahn, vencedora de um Grammy. Em 2018, aceitou um convite para integrar a Academia de Cinema, Artes e Ciências de que é membro ativo.
Para Hauschka, a essência do seu trabalho reside no facto de se desafiar constantemente a novas experiências musicais. O seu objeto de estudo é o piano de cauda, que aborda como um corpo acústico. No início da sua carreira a solo, especializou-se na preparação do instrumento com fita-cola, feltro e outros materiais. Transforma clubes e salas de concerto em laboratórios sónicos, onde o público pode experimentar a interação entre análise e intuição. Para os seus álbuns, aventurou-se repetidamente em novos arranjos experimentais – da eletrónica à abordagem purista da sua obra A Different Forest (2019). É a diversidade da nossa existência que ele torna audível nas suas canções, quer se trate de questões globais sobre o futuro no seu álbum What If (2017), ou da proliferação e decadência da vida urbana em Abandoned City (2014).
As suas apresentações ao vivo são momentos especiais, apreciados por público e crítica de todo o mundo. Plena de melodias evocativas e arranjos cheios de carácter que lhe conferem profunda originalidade, a sua música é, sem dúvida, um dos tesouros destes tempos.
Depois de vários concertos esgotados, Piano Para Piano está de regresso a Lisboa e apresenta-se pela primeira vez no Porto. Este espetáculo junta em palco Rodrigo Leão e a filha Rosa num diálogo entre dois pianos acústicos.
Rodrigo Leão é o primeiro a dizer que não é pianista, mas a verdade é que o piano tem surgido na sua obra como um complemento dos sintetizadores que já usou bastas vezes para escrever memoráveis melodias e pensar nos envolventes arranjos a que foi dando corpo com os ensembles que criou. Agora, o notável compositor português prepara-se para nova aventura: Piano Para Piano é um projeto que nasceu depois de uma encomenda do Festival de Piano em Vila Nova de Cerveira, desafio que o levou a compor duas novas peças que são também o princípio de um novo caminho.
“Acho interessante”, revela Rodrigo, “que eu que não tenho qualquer formação como pianista possa estabelecer um diálogo com quem estudou e estuda seriamente o instrumento”. Nesse primeiro momento no evento minhoto a sua interlocutora foi Rosa, sua filha, que conta 19 anos e será também ela que irá acompanhar o pai agora neste espetáculo. Vai ser interessante escutar estas peças como as ouço na minha imaginação. A imaginação não tem os mesmos limites que as minhas mãos”, explica Rodrigo. “Pode ir tão longe quanto a criatividade ditar”.
Piano Para Piano é por isso mesmo uma viagem ao maravilhoso desconhecido com assinatura de um dos mais celebrados compositores portugueses.